segunda-feira, 25 de junho de 2012

INFÂNCIA & GOSTO




“...Comida começa com mãe, e nosso relacionamento com a comida e com a mãe permanece estratégico, percorrendo o leque do gosto, do desgosto, do apetite, da náusea, da falta de apetite, e da velha e boa culpa. “Somos o que comemos”, diz o provérbio, mas é só meia verdade.

De algum modo continuamos com fome mesmo depois de saciados, porque a comida é um gatilho emocional para nos lembrarmos de coisas há muito esquecidas, presas na memória.
"Os vícios e preconceitos começam na infância. O que gostamos e o que não gostamos. E aquele desejo que nos consome e que nunca superamos...”
Edna O’Brien
Se analisarmos este trecho da autora Edna O’Brien, veremos que há no berço o conforto e o desconforto do ato de comer. Preferências, preconceitos, exageros, etc, nascem muitas vezes dentro de casa.
Qual é a fórmula adequada para nos alimentarmos nos tempos de hoje sem deixarmos de nos tornar vítimas de nós mesmos?
Inúmeros são os distúrbios decorrentes da falta ou do excesso de alimentos.
Mas que apesar de tudo não conseguimos viver sem ele.
Quantas vezes nos questionamos de como comer? Quanto comer? De que jeito comer?
A verdade é que apesar de todas essas dúvidas e dos bombardeios diários que nos atacam quando o assunto é alimentar-se, nos tornamos escravos de dietas, exageros causados pela estética pouco estética, das influências alheias, da nossa falta de capacidade de escolha. Fazendo com nos tornemos ávidos por satisfações momentâneas e vazias, pois a vida a cada minuto se torna mais rápida, não deixando com que façamos escolhas corretas e acessíveis ao gosto, e sim ao ato simplesmente mecânico do “comer”.
Que prazeres deixamos de usufruir quando não percebemos o que ingerimos? Quanta rapidez para apreciar o que nos alimenta? Com que frequência precisamos nos abastecer diariamente para sentirmos realmente satisfeitos? Quanto ouvimos nossas necessidades de consumo, ou simplesmente deglutimos tudo o que vem pela frente como uma carência para suprirmos nossas fraquezas???
Como o alimento é visto hoje dentro dos lares cada vez mais solitários? Onde a mãe com sua força de nutrir, proteger, já não consegue controlar o que seus filhos comem, gerando cada vez mais problemas com a saúde física e mental principalmente das crianças, que quando conseguem olhar para seus pais só vem exemplos de incertezas perante a comida.
O que estamos realmente aprendendo para nos salvar desse contraste que nos colocando a frente de nossos olhos mesmo quando estamos sentados à mesa? Conseguimos realmente ver o que comemos? Ou apenas nos declaramos omissos de que o que vivemos hoje é um verdadeiro colapso de excessos causados pelos alimentos.
O Brasil vem aumentando rapidamente seu peso perante a balança, e os que mais sofrem são as crianças que na falta de opção, discernimento conduzem cada vez mais uma alimentação pobre em nutrientes que realmente fazem bem, gerando super pesos pesados já na flor da idade. Enchemo-nos de “coisas” cada vez mais vazias, tornando nossas vidas cada vez mais problemáticas, ricas em depressões, frustrações, incertezas que estão diretamente associadas ao alimento que consumimos.
Até quando conseguiremos aguentar o peso de nossas escolhas, que só fazem com que aceleremos problemas de saúde, auto-estima e segurança emocional?
Quando se gasta atualmente em saúde, médicos especialistas, planos de saúde, remédios, dietas, que não resolvem absolutamente nada?
Qual o preço que pagamos por este desconforto?
É possível se amar quando estamos com dificuldade para se relacionar porque cada vez mais a sociedade exclui os que não estão de acordo com as normas estéticas?
Como resolver isto, quando moramos em grandes cidades que nos sugam e deixam cada vez menos tempo para deliciarmos com um bom prato de comida, assim quentinho, saboroso e que nos faz vir a memória tempos felizes!
Mas ao contrário da agitação da vida modernos nos deparamos com realidades opostas onde o sossego de pequenas cidades onde o tempo parece não passar, e que mesmo assim nos distanciam da cozinha. Cozinha que é local de ideias, preparos, reparos, lugar comum. Lugar que aproxima, que esquenta a lama, o corpo e o coração, pois quem não aprecia um sopinha feita assim, de forma bem simples naqueles dias frios? Ou aquela mesa lotada com conversas que se cruzam, se entrelaçam e que compartilham do melhor dos momentos. Momento de confraternizar, compartilhar, saborear companhias, relacionamentos, brindarmos.
Qual a família que não se recorda dessas reuniões onde todos mostram seus dotes culinários, trocam receitas, experiências, segredos que a vida ensina em volta de um fogão.
Qual a herança que deixaremos para nossos filhos e netos dessa alegria que só quem se compromete com o outro consegue dar?
Encerro este texto dedicando melhores escolhas, mais consciência, e que possamos aproveitar mais os alimentos sem culpa e exageros, mas sim com PRAZER!

Viva a boa comida, comida de verdade!
  
Por Eire Rosado

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